quinta-feira, 18 de junho de 2009

A mulher perfeita

Quem dera eu ser a tal. Essa tal cheia de qualidades. Quem dera fosse eu a mocinha dos teus contos. A mulher dos bons adjetivos. Quem dera a mim não ter esse cabelo vermelho, essa cara de vilã de filme europeu.
Eu não passo da que tumultua a tua vida planejada, da que despeja novidades que você não faz questão de saber. Da que ama demais, da que pondera de menos. Da que hoje quer muito e quer que amanhã o muito já seja parte integrante da vida. Eu sou a impulsiva que age e depois corre pra te pedir perdão. Que erra de novo e volta a te pedir mais chances de acerto. Eu te ensinei o que é amargo, o que é solidão. Eu te ensinei o que é que você não quer ser e quem é que você não quer ter. Eu sou a sem pudores, que fala o que quer, o que pensa, o que pensa que quer e que principalmente acha que pensa. Eu sou a antítese da perfeição. Eu sou turbilhão. Eu sou erro. Ela não. Ela é acerto. Tão calma. Tão soberana. Eu fervo, tranco os punhos, esbravejo enquanto ela me propõe uma guerra de nervos. Ela não perde a pose e eu já perdi a minha faz tempo. Ela te fez, te faz e ainda quer fazer tudo o que eu não consigo fazer. Eu penso: Paz pra quê? Mas eu não sei porque você sempre volta pra mim. Vá entender o que é perfeito pra você!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sem título

Eu amo, erro, escuto, perdôo, me dôo. E faço tudo de novo. Eu amo defeitos, singularidades, esquisitices. Eu amo e respeito. Eu erro, como ele, como você, como qualquer um. Eu remendo o erro, passo cola nos cacos e sigo sem perder o prumo. Eu escuto, compreendo, aceito, me torço, me enrolo, mas acredito. Eu perdôo a distância, eu justifico a ausência, o medo, a covardia, o desrespeito. Eu me dôo, me jogo, me bagunço, me confundo, me enlouqueço. E me pergunto se mereço.Vivo numa loucura, num turbilhão de emoção sem pausa, sem descanso, sem refresco. Eu me pergunto eu me respondo. Eu me sacio. Não, não eu não mereço.Não mereço as noites sem dormir, os comprimidos de dormir, os dias sem acordar deixando o mundo passar. Não vale me confundir. Não vale fechar os olhos pra não perceber que por mim passam outros muitos mais cheios de encantos que você e só eu não quero ver. Você é carta repetida do barulho. Não tem premiação. Vá se embora. Leve todo esse peso que você me deu. Esses olhos fartos de mentiras, essa boca cansada de pedir, esses joelhos machucados de tanto implorar amor. Leve embora esse tom médio, essa vida cinza, esse romance mais ou menos. Te devolvo esses anos a mais que você quis que eu estampasse na cara.Engula essa inocência que você critica. Engula a minha dança, o meu decote, as minhas más companhias, as minhas manias. Engula de uma só vez, sem ajuda. Se engasgue, cuspa, bote tudo que te enfio pela garganta para fora. Seja humano, fraqueje. Sinta, aja, ame. Talvez assim eu ainda consiga te olhar um dia e me sentir menos suja por te amado.

O dia do adeus

A sala da minha casa nunca antes foi tão grande, tão desconhecida, tão desapropriada para me conter. As paredes nunca foram tão frias, minha cama tão pouco acolhedora. Os móveis nunca foram tão desconhecidos. Tudo parece querer me engolir, mas nada disso parece querer me conter. Estou sozinha. Enfim, sozinha. Nunca antes fui tão sozinha. Tenho medo dessa solidão tão desconhecida que me invade. O mundo parece feliz demais, satisfeito demais. As luzes nas janelas me causam náuseas, tudo é longe demais. Você se despede de mim, eu sei que devo deixar você ir, mas eu não consigo permitir sua ida. Eu sei que será melhor... pra você. O mundo grita demais, as pessoas dançam demais e eu só quero me enfiar em você e morrer ali, no teu peito, agarrada nas tuas costas, com a boca encostada na tua, as mãos cerradas nos teus braços. Porque eu sei que quando você for de verdade, não terei mais escolha, terei meu tão adiado fim. Então eu prefiro morrer em você, ao seu lado, dizendo que eu ainda te amo e implorando seu perdão, do que morrer tendo a certeza de que não consegui te fazer feliz. Eu que não faço bem a ninguém. Eu deveria ser uma dessas drogas ilícitas. Proibidas para aqueles que não gostam de se arriscar. Sempre faço mal aos homens que mais amo. E sendo você o homem que mais devotei amor, foi você o mais sacrificado. Sei que não adiantaria pedir seu perdão. Mas estou de joelhos. Perdoa, perdoa essa inconstância que se apossa de mim, perdoa esse meu medo mesquinho de ser de alguém, perdoa essa covardia suja de dizer não. Eu não sei quem sou. Você está mesmo indo embora. Sua voz nunca foi tão convincente. Estou prestes a te perder de vez. A perda é irreparável.
Quero te dizer adeus, quero me despedir, quero dizer que sinto muito, quero ser madura o suficiente e dizer que sei que não posso te fazer o bem que você merece, quero dizer que sei que não sou o sinônimo de paz, quero deixar você ir pensando que sou a mulher forte que você conheceu... Mas sinto o mundo girar demais, sinto o chão afundar, as paredes se fecharem em mim. Eu me jogo. Me agarro as minhas últimas lembranças numa tentativa desesperada de não perder tudo que você trouxe para mim. Passo por todos os nossos momentos. O dia que nos beijamos, o dia que jurei ser sua e nunca consegui cumprir a promessa, nossa primeira briga, nossa primeira reconciliação, nosso primeiro passeio no meio de um dia agitado, só pra ter um pouco de paz, e achar que a vida vale a pena no meio da semana. Me agarro até os dias de dor intensa, desde que elas tenham sido causadas por você, é a única forma que tenho de estar mais próxima. Sinto que choro demais. Sinto que sou fraca demais. A perda finalmente me invade, tento fugir dela, me agarro aos nossos poucos sorrisos, as nossas muitas lágrimas, tudo é melhor que essa dor que agora faz parte de mim.Eu sempre soube que seria invadida pelo vazio que atormenta a todos, mas nunca soube que teria medo dele. O vazio dos outros sempre parece menos assombroso que o nosso.Você está pronto pra ir e eu sou tão mesquinha. Fica, eu imploro. Mas não tem jeito essa sua voz cheia de firmeza, essa distância aterradora que passou a existir entre nós. Me deixa pelo menos ficar com a lembrança do teu gosto. É meu último pedido. Mas ele arranca o próprio gosto de mim. Não sou merecedora desse homem. Não sou merecedora de paz, de calma ou ponderação. Se eu sou turbilhão, se eu só sei tumultuar, realmente não mereço ser sua. Adeus, amor meu.

Cruel

Eu sei que quando você se foi, adotei um ar cheio de superioridade, cheio de ousadia, cheio de promessa de que ia desfrutar de tudo que não pude ao seu lado. Eu sei o quanto você não quis ir, eu sei o quanto fiquei feliz por isso. Fiquei feliz de saber que você ia embora me amando, que você ia acordar no dia seguinte ainda me amando e que você ia dormir noites seguidas pensando que poderia estar me amando. Eu sei que fui cruel ao te mandar embora. Eu sei que fui cruel com aquele meu sorrisinho canto de boca enquanto você se agachava pra recolher suas tralhas.Com a casa vazia vivi. De vez em quando deixava que alguém ocupasse a cama que foi sua. Que alguém - que não você - sentasse no sofá. E eu beijava esse alguém, com toda a minha vontade de ser má, enquanto eu beijava, lambia ou dizia que amava, eu imaginava seus olhos em cada canto da minha casa vazia. Não tinha graça ser feliz sem você na platéia. Minha felicidade estampada tinha que doer em você. E doía. Eu não entendia que mesmo te expulsando da casa, eu não te expulsava da minha vida. Você estava mais presente que nunca. Tatuado na minha pele, pra todo mundo ver, estava a despedida seca de um amor não resolvido. Estava a certeza de que eu não conseguia ser indiferente a você e a toda dor que você causou. Eu posso gargalhar, falar alto, gesticular mais que o comum, eu posso desfilar com quem que me ama, mas sempre foi tudo pra você perceber o quanto eu conseguia viver sem você. Você pode ir embora que eu vou continuar respirando e falando sacanagem. Você pode ir embora que eu vou continuar fazendo bem o meu papel. Você pode ir embora que eu não vou desmoronar...
Desmoronei. E como foi cruel desmoronar assim. Você se curou mais depressa que pensei. Você aprendeu que eu não passo de farsa, que eu não faço bem o meu papel. E essa mulher que posa do teu lado, que sorri calma frente a mim. Ela não teme quem fui. Ela não teme o amor que você me jurou. Eu tão cruel. Eu que por segundos desestabilizei teu mundo. Eu. Tão pequena frente a certeza dela. Qual é a promessa que a mim você poupou e a ela você fez? Quis que meus atos ainda te causassem dor. Mas que nada! Você nem via. Ou fazia que não. Você tão cruel. Eu só precisava das certezas que você não podia me dar e que a ela deu. Eu podia estar posando ao seu lado com semblante mais sereno, se você não tivesse atiçado meu turbilhão. Sei que vai continuar doendo toda vez que eu me deparar com o quanto você pode viver bem sem me ter. Sei que vai doer ainda mais quando eu perceber que a minha vida continua estagnada, que meu gozo só vêm da tua angustia. Sei que amanhã vai continuar doendo. E que tempo algum vai conseguir abrandar essa brasa que me arde o ventre.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Prenda a respiração

Não diga que não entende quando eu preciso que você entenda que se você me deixa ir embora eu não posso voltar nunca mais e ser sua e ser feliz e ser o que quer que a gente tenha que ser, desde que a gente seja e esteja junto sem dar ponto final nessa história que a gente começou porque a gente quis começar mesmo quando tudo parecia dar errado e tudo parecia não ter que ser, mas acabou sendo e é por isso que eu não quero que você me faça querer acabar com isso ou deixar você respirar e pensar se eu valho mesmo a pena porque se você parar para pensar sem estar totalmente envolvido nas minhas tramas, na minha cama, eu tenho certeza que você vai perceber que eu não sou boa coisa porque eu sei que eu não valho mesmo a pena, mas mesmo assim eu ainda quero estar presente na tua vida mesmo sendo a minha vida tão diferente da tua, por isso me perdoa se pareço estar sem controle mas é que eu não posso deixar você me mandar embora só porque você tem medo de não parar para analisar e poder controlar a situação quando eu só preciso que você também tire seus pés do chão e decida qual a pontuação que este texto realmente merece (, ; . ? !)

E a inspiração onde é que foi parar?

Preciso de alguém que me dê um pouco mais de inspiração. Que renove o meu vocabulário e as minhas emoções. Preciso de alguém que tenha coragem pra me arrancar à força dessa pilha de DVDS não inéditos que eu tenho em cima da mesa, que me tire dessa monotonia, desse ritual de solidão que eu mesma criei pra mim com tanta habilidade, mesmo quando relutar e brigar e dizer que eu ainda quero continuar aqui com você e suas piadas que eu já conheço e seu cheiro que eu reconheço e suas frases que eu já sei de cor. Quero voltar a perder o ar por sentir medo do inusitado, do desconhecido. Quero parar de perder o ar com suas idas, com suas vindas, com suas brigas e sua falta de tato ao me criticar. Estou sufocada de hábitos velhos que nem são os meus próprios. Estou cercada de planos que eu não consegui formular. Não quero viver de sonhos repetidos, não quero ser imagem de outra mulher, nem quero o resto que dela sobrou. Não me satisfaço com farrapo, com sobra, com idéias batidas, com móveis velhos, com a lembrança de outra vida. Estou engasgada com a poeira da sua vida que invade a minha.

domingo, 14 de junho de 2009

Acorda e vai ser feliz

Podia ser um sábado ou domingo. Talvez feriado. Não importa o dia. Importa que ela estava só em casa. Entediada provavelmente. Como acontecia todas as vezes que ela se via sozinha em casa. Na cozinha lavava os pratos do jantar que ela preparara para comer sozinha. E lavava sozinha. E não cantarolava. Estava lá. De pé. Molhada por ser desastrada. Sozinha por não ter ninguém em casa. Agitação na rua tinha e era isso que a perturbava. O mundo não pode ser feliz quando ela está cansada. Quando ela está de pijama trancada em casa. Quando ela não quer conversar, quando ela não quer pedir jantar só pra uma pessoa. Ninguém tem o direito de esquecer que ela está esquecida. Nem de não lavar louça quando ela tem a dela pra lavar. Estava lá. Ela. Com a mão submersa na água na pia, com a cabeça submersa em pensamentos. E uma buzina toca. Dezesseis segundos. Ela contou. Ela se perguntava o que faz alguém pressionar a buzina durante dezesseis segundos. Alguém que não está em casa. Sozinho. Com a roupa molhada da água pia. Sentindo frio porque faz frio essa época do ano. Lavando louça da comida que ela própria fez e que ninguém provou e que ela teve que comer sozinha e depois ainda lavar a louça sozinha e molhar a roupa porque é desastrada e não ter ninguém pra reclamar ou rir por ter feito comida pra uma só uma pessoa sozinha. Nem deu tempo de acabar de pensar e novamente a buzina. Novos dezesseis segundos. Ela contou. Talvez não exatos. Mas de acordo com ela dezesseis segundos. Seria homem ou mulher? Sozinho ou não. Qual o modelo do seu carro? Sempre gostou de buzina? De som alto? De perturbar quem está sozinho? De interromper pensamentos importantes de quem precisa se resolver? Estaria chamando alguém? Alguém que o tiraria da monotonia daquele sábado ou domingo. Talvez feriado. Seria agora ela a única pessoa a estar só. Se tocar a buzina de novo. Ela pensava. Eu desço e pergunto os motivos. Digo que me incomoda. Que atrapalha a minha vida. Que eu detesto buzina. Som alto. Voz de quem quer seja, desde que não seja a minha. E mais uma vez a buzina. E mais uma vez o ódio crescente. Ela nem pensou agora. Desceu. De escada porque não quis encontrar ninguém no elevador. Desceu como que pra matar alguém. Pra gritar na rua. Pra dizer tudo que ela estava sentindo. Tudo que atrapalhava a vida dela. Ela desceu com a roupa molhada da água da pia. Com sabão nas mãos. Com a esponja trancada na mão. Ela ia dizer. Como pode alguém lavar a louça enquanto alguma pessoa louca aperta a buzina por dezesseis segundos. Que pressa é essa. Onde vai. Com quem vai. Por que não me leva. Por que não me arranca dessa pia. Desse dia. Dessa solidão. A rua estava vazia. O sinal aberto. Tarde demais seria. Mas ela estava na rua. Que faria ela se não acordar da monotonia e finalmente procurar o que a fazia feliz. Agradecendo a buzina. Ao sinal fechado. E a pessoa que pressionava a buzina por dezesseis segundos impossibilitando qualquer chance de ser alheio ao mundo.